27.11.07

O TAL DO "QUEBRE A PERNA"
Só você. Isso, com toda certeza. Sempre soube desse provérbio teatral de incentivo peculiar, o tal do "quebre a perna". Mas você não precisava ter levado ao pé da letra, meu bem.
Cair, dessa forma, no palco, preocupa do ponto de vista do equilíbrio. Se bem que acalma, sob muitos outros. Quantos tiveram a coragem e dedicação artística de derrubar-se no meio da cena, fazendo valer o provérbio? Poucos, por certo.
Mas eu quase imaginava. Você, com todo seu ânimo quântico-belo indescritível de ser só podia mesmo era desafiar o clássico teatral. Na verdade, cabe lembrar Schopenhauer: "Tudo o que acontece, acontece necessariamente".
Se não foi para aproveitar os analgésicos, serviu justamente para dar chance de eu escrever essa simples, porém, honesta, homenagem à queda sua. Queda que é sempre o que nunca desejo para ti, mas faço questão absoluta de cair contigo, para levantar no mesmo momento e ritmo.
Lamento, apenas, não ter estado presente para estender-lhe a mão e dizer, seguramente, que se o teatro não continua, seu show sempre prossegue.
Melhoras, Olivinha, que sua dor é minha para que dela sempre possamos sair.
Beijos...

26.11.07

NASCIMENTO PÓSTUMO
Conceitos interesantes que surgiram no sábado e no domingo. Um, o do título, o outro, omitido e acanhado, o do sono social - ou preguiça, para quem insiste nos olhos abertos.
Fato é que no domingo tive a tal preguiça social. Sabe como é? Pensar que os corriqueiros cumprimentos de praxe não passam de uma grande imbecilidade, principalmente quando direcionados a essas pessoas que não merecem o título de bípedes.
Então, inevitável é conceber que algo está errado e merece algum tipo de apreciação introspectiva. O que está errado com essa gente? Não sabem de samba, não falam com pobre, não dão mão pra preto, não carregam embrulho... Mas querem ser bípedes!
O que há de errado com nossos contemporâneos é que eles não possuem informação alguma sobre como foram os primeiro setenta ou oitenta anos do século passado. Ora, por que eu, deparado aqui com a discografia de Cartola, devo achar razoável ou "normal" ir para a faculdade ou qualquer outro canto esquisito e ter que sofrer os insistentes ritmos eletrônicos desprovidos de inteligência, cultura ou amor?
Mais que isso, por que é razoável que ninguém saiba quais eram as palavras da porta do inferno na Divina Comédia, de Dante, mas saibam de pronto o nome do livro da bruna surfistinha (sem maiúsculas propositalmente)?
Sabe o que eu penso? Penso em termos de época. Não é segredo algum que estou muito mais próximo do ânimo cultural dos meus pais do que qualquer outro, sem desmerecer a cultura a mim apresentada pelos meus irmãos, que também é da maior relevância, assim como eles o são.
Aí, então, o meu espelho da alma sugere o núcleo cronológico do problema: alguém, não se sabe quem, esqueceu de ser generoso comigo em termos de época (não a revista, logicamente). Nasci na década errada. Simplesmente, meu sangue meio inglês não evitou esse atraso. Atraso de uns, digamos, cinqüenta anos (antes que matem tremas e outros acentos).
Quando olho para aquelas pessoas com as quais seria lógico manter alguma relação social em razão de idade ou atividade, ponho a mão na cabeça e acelero as entradas capilares, profetas da calvice que me aguarda.
Meu pedido de socorro é o silêncio.
Alguns homens e mulheres nascem póstumos. Das duas uma: ou nasci morto, ou morri sem deixar de viver.

5.11.07

BÊBADAS CHAMAS
Uma Homenagem à Influência de Breno, Grande Amigo
Lembrei, rapidamente, da locução encontrável nos 10 Anos de Vinícius e Toquinho, álbum de excelência inefável, em que nosso saudoso Vinícius de Moraes disse, sobre aquela amizade, que era berço das maiores alegrias.
E não é diferente, desta vez, resguardadas as proporções temporais.
As Bêbadas Chamas são aquelas de sempre, de vários dias por semana, que nos mantêm humanos. Porque, no meu caso, latente em Schopenhauer, sem elas sobra, quando muito, a crueldade e a frieza de quem não decide entre a paixão por si ou pelo mundo.
Mundo recoberto de peculiaridades, como bem disse nosso citado filósofo, pois "são demais os perigos dessa vida pra quem tem paixão".
E tanto é verdade que sempre acabamos encurralados, Breno e eu, em becos sem saída, cuja escada de emergência, rumo ao topo e à vista de todo o mundo, costuma envolver decisões da maior relevância intelectual e profética. Uma pena que algumas situações só se resolvam pela palpitologia ou confronto casuístico.
E auge do uso da lógica é seu desuso; nos algema ao mínimo de humanidade de que se precisa, se é pretensão viver em alguma paz. Aí é definitivamente o caso de citar Jostein Gaarder, que em momento de muita felicidade escreveu: "Quem quer entender o destino tem que sobreviver a ele".
Uma boa compreensão desse tema deveras obscuro pode ser encontrada em Bell Botom Blues, de mestre Eric Clapton, música em razão de que meu violão já recebeu boa cota de lágrimas.
Enquanto isso, permanecemos, em mediano desespero, "na diagonal, por certo, apoiados em algum poste recolhido de luz" (Breno Miguel).