25.3.08

AO GRANDE CONSELHO
Conselho de pai.
"Aproxime-se de pessoas compatíveis com você", disse-me meu pai quando eu tinha doze anos de idade.
Hoje já é possível dizer que, além de compreender, segui tal conselho muito bem. E sou obrigado a ampliar tal conselho ao método nitidamente compartilhado entre mim e o nobre Professor Fabrício Polido.
Pela minha pequena interpretação, Fabrício e eu temos certa compatibilidade de conceitos, a saber, tudo merece sua mínima dose de clareza. O oculto nos serve de pouco, quando se trata da relação entre seres humanos.
O mistério nos favorece artisticamente; no dia-a-dia, porém, melhor saber bem com quem se está lidando. Basicamente, diremos o que há para ser dito, sem reprimir a réplica. Mas nos resguardamos o direito à tréplica, doa a quem doer.
No fim do dia, apenas os honestos serão capazes de dormir com a paz de terem dito aquilo que julgaram ser o necessário e o justo.
Estamos aqui para escutar, até que nos seja dado o direito de falar.
Nosso sossego está em saber. Pensando bem, nosso sossego está em saber.
A VI ONTEM, MAS NÃO ERA VOCÊ
A vi ontem e do modo com que a vi existi somente no anteontem. Quando o futuro era distante, podia ver o presente sob os olhos de meus tanto anos que já não haviam passado.
A vi ontem e do modo com que a vi concebi o amor sem tempo, sem espera e sem penar. Quando da primeira vez, concebi o platonismo dos tempos modernos; a arte como bem maior.
A vi ontem e do modo com que a vi tracei um sonho. Onde sonho é destino fica fácil dormir; fica fácil acordar; fica fácil viver; fica fácil sobreviver.
A vi ontem e do modo com que a vi passei a saber que toda esperança tem sua origem e todo ânimo é digno de crédito.
A vi ontem, mas não era você. Mas será. Porque o destino do sonho é olhar e amar, inevitavelmente, você.

14.3.08

SIMBÓLICO VERDE
Esperança é a força que traz todo um mundo do absoluto nada.

13.3.08

OS PÉS DO POVO
O ser humano, em seu auge, é brilhante. O brasileiro, então, entusiasma poesia, teoria e prática. Com o perdão do sigilo, devo relatar e interpretar, em linhas gerais, o acontecido com certa conhecida minha que sempre me agrada com assuntos variados e ricos.
Imagine você - o leitor tolerante - uma mulher trabalhadora, como tantas que existem nesta capital, São Paulo, a selva de pedras. Ela mora na Avenida Santo Amaro e, provavelmente, sofre de poulição do ar e sonora, ainda que maior parte das necessidades diárias possa ser resolvida pelos próprios pés.
Trabalha no Shopping Eldorado - para os menos avisados, fica na Rebouças com a Marginal Pinheiros. A loja, tanto faz. Não é aqui que o leitor vai encontrar propaganda de grife, pode ter certeza.
Agora, imagina que ela, trabalhadora dos prórpio pés, sofra uma torção nesta palavrinha tão importante que está antes da última vírgula. Para quem anda pelo próprios pés e pelos ônibus, isso pode se tornar um problema.
Eis que ela, a trabalhadora, chega e me conta um desses episódios peculiares de que só o povo brasileiro verdadeiro tem notícia.
Outro dia ela torceu o pé. Não sei se o esquerdo ou direito. Porém, houve a torção. Ficou um dia sem trabalhar e como trabalha por comissão, foi um dia de balanço negativo, pode ter certeza. Isso é sério. Como ela disse, "cair no chão feito coco e ainda ter contas a pagar...". Imagine só. Ganhando por comissão.
Com o pé torcido e de trem (sorte ou azar, senhor governador?), vai à faculdade, mas parte do trajeto percorreu pelos próprios pés, mancando, naturalmente. Ocorre que, naquele dia torcido, passou no Shopping Morumbi e nele esqueceu o caderno com tudo que era necessário para aquele dia acadêmico.
Claro que só notou o esquecimento no ápice do vigor da Lei de Murph: notou na faculdade - Anhembi Morumbi - que deveria voltar àquele aglomerado de pseudo-elitistas para recuperar seu caderno. E por motivos nobres; humanos.
Havia esquecido o caderno no banheiro do shopping. Sempre mancando, perguntou à senhora da limpeza a respeito do caderno. A tal senhora - digna de todo respeito não fosse pelo fato de não se dar ao respeito - disse a ela que "se virasse para encontrar o tal do caderno".
Minha amiga, ignorando a falta de educação da funcionária do shopping, assim o fez e encontrou o procurado caderno. E seguiu pelo próprios pés, mancando de um deles, para a faculdade, sob uma chuva torrencial e injusta.
No retorno para casa, ainda mancando, tomou um ônibus; subiu ladeiras; conviveu com as amigas de apartamento que de bom humor não estavam... E assim por diante.
Talvez fosse justificável que ela se transformasse num ser de humor agressivo. Porém, não nesse caso.
Ela ainda foi capaz de chegar em casa e, na fente do espelho, abrir o belo sorriso e dizer a si e aos outros que estava tudo bem. Porque a beleza do povo está em cada esquina; em cada esforço e na capacidade de dizer honestamente, a despeito de tudo, que "está tudo bem".
A verdadeira beleza, além do sorriso, está em saber que há esperança.
Melhoras...

4.3.08

O MISTÉRIO BISSEXTO E A LIBERDADE DA CARTA SOLITÁRIA
Uma Alusão ao Amor e à Arte
"Já estive nessa situação outras vezes na minha vida. Pela primeira vez, entretanto, sinto que é para sempre a mais importante e a mais para sempre..."
Quando se realiza um sonho, tudo se parece parte de algo maior, certamente inexplicável. O mundo se confunde com o próprio mundo e não há mais como dizer que traços separam a músicas das cores.
Quando se está sob luzes de harmonia, contornos são lançados ao povo cantante. Cores elegantes se combinam com acordes marcantes e, de repente, vê-se que algo ocorreu de muito certo em algum momento.
O lançamento do CD da Fabulosa Banda do Curinga é maior do que o próprio disco. Revela que há esperança. Revela que há esperança. Revela que há tanta esperança que nunca basta dizer que há esperança.
Não só para a música; não só para as fotos; não só para as telas. A vida, já se pode dizer, é uma tela em branco que espera com entusiasmo ser preenchida com as cores eletrizantes da pura existência.
Se é verdade que o disco foi lançado, todo o resto também é. Sonho é destino. Muito claramente: sonho é destino.
Prepara-te para o sono sabendo sonhar com o que te espera. Dorme o bastante para confundir os sonhos com a realidade. Viva o bastante para confundir a realidade com o sonhos. Já se foi o tempo quando o plural predominava.
A vida é o singular entre os olhos abertos e os olhos fechados. É na dor que se aprende a viver os prazeres improváveis.
A busca é eterna e o êxito não pode esperar.
É agora ou nunca; é agora ou nunca mais.