12.9.08

A MAGIA COMPREENDIDA EM SI PRÓPRIA
Verdade seja dita: a parte mais difícil ficou bilhões de anos atrás.
Tudo o que vem depois é de uma naturalidade tão inacreditável, que razão não há para elevar o patamar do racionalismo. Até concedo certo crédito a quem "não quer arriscar"; por justiça, não condeno quem se sujeite à perene mediocridade.
Agora, para levar a sério mesmo tudo isso aqui, temos um intrumento em mãos: a magia. Nada é o que parece. Não é a mesma coisa que dizer que as aparências enganam. Não existe a verdade pela aparência; não existe amor; não existe arte. Só a aparência resiste a ela própria; a boa e velha Sociedade do Espetáculo.
Temos uma chance: a de olhar bem ali, onde nada aparenta acontecer. Mas é dali mesmo que vai surgir algo diferente, algo interessante, irresistível.
Tudo o que há, há por mágica.
Para a Fabulosa Banda do Curinga existir, antes foi preciso criar o Universo.
O pior já passou.

8.9.08

VAI GRAXA AÍ, DOUTOR?
O rico, no auge da soberba, constatou que um de seus pares de sapatos precisava de ser engraxado. Na cabeça dele isso era um imenso absurdo. Como poderia ser? De que serviam os 415 Reais mensais que ele pagava à empregada doméstica? Não pensou duas vezes e demitiu-a sumariamente; argumentou justa causa, por desídia. Vê se tem cabimento...
Entretanto, suas reações capitalistas não resolveram o problema. Os sapatos continuavam sujos e sem brilho.
Passou a mão no telefone celular de última geração e ligou para outro rico, que conhecera, bem a propósito, numa loja de sapatos caríssimos. Convidou-o para almoçar naquele restaurante do jardins, em que não era possível gastar menos de 300 Reais por pessoa, num almoço de terça-feira de meia luz...
O amigo rico não ousou recusar.
Durante o almoço, trataram de todo tipo de assunto: filhos adolescentes que queriam ser roqueiros; picaretas empresários que tinham bons negócios; mulheres desonestas que queriam ser desonestas, pois que, nem só de tostões viverá a mulher...
Salada Ceasar. Lagosta. Frutas. Licor. Café. O bom e velho almoço milionário.
Pagaram a conta e levantaram-se em direção à saída. Deram os bilhetes dos carros ao manobrista. Valet! Perdão pelo linguajar inadequado...
E enquanto aguardavam pelos caríssimos carros, o rico dos sapatos sujos foi à máquina cada vez mais comum nos restaurantes de São Paulo: o engraxate mecânico. Enquanto espera pelo carro, o rico pode pôr o pé no aparato e ter seus sapatos devolvidos aos padrões estéticos da sociedade do espetáculo.
É o mundo moderno: engraxar os sapatos por 300 Reais por pessoa...