23.10.06

Diferença
Há diferença entre a diferença que há e o que há na diferença.

21.10.06

Probabilidade
O que é provável é igualmente improvável.

17.10.06

Tédio
O que há de provável na existência do mundo? Absolutamente nada. A vida, então, é algo rigorosamente fantástico. O tédio humano é inconcebível. A primeira raça capaz de tentar se explicar, de que se tem notícia, é o ser humano. Tal capacidade anula qualquer chance de sustentar o mínimo de tédio. De hoje em diante, classifico o tédio como pobreza intelectual. Simples assim.

16.10.06

Célula
Embora as células de um corpo humano se renovem por completo a cada sete anos, envelhecemos mesmo assim. A célula nova herda a idade da velha. A célula só é jovem da primeira vez em que é concebida.

14.10.06

Eu Explico

"De novo" não se aplica. Porque eu esqueço de tudo. Propositalmente. O esquecimento é forma de se surpreender com o mundo constantemente. Os olhos vislumbrados de uma criança aliados à experiência de muitos anos. Assim, o mundo nunca fica chato. Melhor que isso, quando te vejo é sempre a primeira vez. Linda como da primeira vez que te vi. De certa forma, toda vez é a única. Toda vez é a primeira. A primeira vez é para sempre.
Matemática
Quem conta os dias perde a conta da vida.

13.10.06

Síndrome de Sthendal
A propósito, recebi de uma amiga uma foto. Pela Internet. Uma amiga lindíssima, como disse a ela na oportunidade do envio. Diante desse tipo de circunstância é preciso admitir essa patologia: Síndrome de Sthendal. Nada além de uma reação física ante belezas inefáveis. É um reflexo. Diante de grande beleza é preciso parar e pensar: como pode? No fim das contas, acho eu, não há tanto de errado com o mundo. É questão de equilíbrio. Para belezas como as que eu conheci servem de contraponto os desastres. Por isso a guerra: para equilibrar o mundo diante de tanta beleza.
Ó
Do Borogodó. À luz do nome não se pensa bem do lugar. Mas é proposital. Mantém os indesejáveis longe, ainda que muitos dos entusiastas o sejam. É uma casa de samba; é uma escola de música. É o que dá sentido ao desconexo. Eu vou lá. Mas não existo lá. Fico de canto, próximo à porta. Sei que vou desaparecer, então já me faço meio desaparecido. Quem me quer, quer daquele jeito, não jeito normal, no meio, extrapolando. Minha diversão é não fazer parte da diversão. No meu universo sei o que faço. Sei quando não faço parte de um universo. Mas, certamente, o Ó é o meu lugar.
Meu dinheiro não importa lá, mas é lá que ele fica. Lá, o fato de o meu carro não ser blindado é tido como bom sinal. Lá, o samba não é múscia de velho. É música de gente. Lá é para quem tem pretensão de viver. Lá é o Ó do Brogodó.
Não estou fazendo um convite. Quem não sabe o nome de três músicas do Cartola que não me apareça por lá. O Ó não é para quem não sabe das coisas. Onde eu posso ser, simplesmente.
"Deixa. Ninguém vive mais do que uma vez. Deixa. Diz que sim para não dizer talvez." (V. M.)
Sim. Eu vou ao Ó hoje.

11.10.06

Pátio

Isso é uma grande confusão. Um acúmulo de incertezas e instabilidades. Um excesso de clarezas e de obscuridades. Do tipo que leva à loucura e à idade. Joga para longe o estado de paz e sanidade. Isso é uma grande confusão.

Minha solidão é a melhor. É minha. Está comigo há muitos e muitos anos. Mas não faço como os outros. Não penso em mim. Ou, talvez, pensar em mim seja exatamente não pensar em mim. E também não pensar nos outros. O universo é por demais intrigante para me dedicar aos seres humanos. Mas não hoje.

Hoje eu me vejo em uma grande e absoluta ironia.

10.10.06

Radares
Na Castelo Branco os radares estão dentro de jaulas. Os radares! Isso não está exatamente correto. São os motoristas os grandes infratores. Deixam de lado o limite de velocidade e ainda atentam contra os radares. Os dispositivos eletrônicos de mensuração de velocidade foram presos para a própria segurança. Eles não têm culpa da ignorância do homem. Ainda assim, sofreram privação de liberdade. Os fiscais da lei estão presos; os desafiadores estão soltos.

9.10.06

Entretanto...
Entretanto, fui cuidadoso. Não havia motivo para deixar de lado a cautela costumeira. Para quem vive de frases não se pode entregar-se a elas - às frases -, de sorte que sempre tenha a visão panorâmica. Por isso acredito na figura do perdão antecipado. Às vezes as circunstâncias vêm com carga adicional de evidência, tornando-se simples dizer, por exemplo, "perdão pelo que farei a seguir". Entretanto, serei cuidadoso.

8.10.06

A Caixa do Meu Violão
Ela sobra. A caixa sempre sobra. A atenções são sempre para o violão. Às vezes nem o músico importa. Mas o violão é centro das atenções. A caixa fica de lado, entra no palco quando já não há público; não reconhecem que ela faz um grande trabalho.

Eu sou mais a caixa do que o violão. Tenho uma notícia mas não tenho nenhuma autoridade a quem me reportar. Mas essa porta não me podem fechar. Essa é a caixa do meu violão e tudo o que ela observou em tanto tempo de espera.