29.8.07

PERFEIÇÃO ÀS AVESSAS
Uma Nova Compreensão Sobre Deixar de Ser
Não é o caso de abusar do texto com deduções metafísicas sobre o perfazimento do ser e coisa e tal. Porém, algo há que ser dito a propósito daquilo que todo ser humano que se preste deve, em teoria, buscar: a perfeição.
Não se trata da perfeição num trabalho da faculdade, ou numa produção de arquitetura ou jurídica. Trata-se da perfeição da pessoa, do ser humano. Sempre se ouve falar sobre como "fulano é perfeito". Acontece que esse ponto de vista é perigoso se olharmos a coisa de perto.
Ser perfeito é algo difícil de se alcançar, por certo. Mas, o que seria a perfeição? Perfeição, no meu pouco entender, significa chegar ao ponto máximo de evolução a que se pode. Perfazer-se é eliminar todos os defeitos possíveis; saber tudo que se pode; fazer tudo o permitido até pela Física Quântica.
Porém, se pensar bem a respeito, atingir a perfeição significa parar a naturalidade da evolução. E parar é um problema, acredite.
Ainda não quero abusar, mas vamos pensar um pouco.
Na velha discussão metafísica sobre o perfazimento do ser, o Universo se define pelo movimento. O que se move existe; o que não se move, não existe. Logo, se algo pode ser descrito, observado, pensado ou sonhado, existe, porque se move entre potência e ato.
Então, nem é o caso de se preocupar com o que não existe, porque não pode ser coerentemente descrito, pensado, sonhado e assim por diante.
Ora, se só existe o que se move, atingir a perfeição é extremamente contrário à existência. Perfeição é impedir o movimento da evolução, porque perfazer-se é fazer parar de se mover o processo evolutivo. Assim sendo, se perfazer-se é parar de se mover evolutivamente, também é parar de existir.
Atingir a perfeição é deixar de atingir todo o resto e, portanto, deixar de existir. E qual nossa compreensão sobre deixar de existir? Sim, morrer. Sim. perfazer-se é morrer. E quem aí se atreve a dizer que a morte é melhor do que a vida? Alguém? Não?
Então, melhor pensar novamente antes de tornar-se perfeito, porque a perfeição é o bem maior que deve ser sempre buscado, mas jamais atingido se se pretende sobreviver.
Eu troco a perfeição pela vida eterna.
Ser é uma atividade muito mais psicótica do que não ser.

23.8.07

MEUS 52
Dentro de trinta anos, pretendo desfrutar meus bons 52 anos, se a saúde me permitir, naturalmente. Quero só uma casinha ou apartamento, com um lugar para ler e outro para escrever. Algumas cervejas na geladeira, uma estante de livros, meus bons e velhos amigos de visita e a trilha sonora dos bons momentos.
Quero a bem-amada ao meu lado, discutindo o novo paradigma científico, o "neo-humano" e relembrando sua formatura, meus presentes e nosso primeiro encontro. Meu filho, ou filhos, não os quero isolados no quarto; mesmo no auge da rebeldia juvenil, os quero na sala ouvindo a Tom, Chico e Vinícius, e, quem sabe, atualizando-me das novas tendências musicais da época.
Quero algumas histórias para contar, sobre os livros que passaram sob meus olhos; poesias para declamar, sem mais nem menos, num domingo pela manhã e orar em família o Poema do Dia da Criação, porque hoje é sábado.
Para isso, suponho, talvez precise entrar nos eixos e embarcar num bom três por quatro. Achar um acorde que harmonize o dia-a-dia, e trabalhar na melodia a ponto de dar o melhor elogio que se pode dar a um acorde: maior.
É quase como se estivesse me vendo sob a perspectiva desse meu "eu de 52 anos". Suas memórias são minha vida desperta. Então, melhor será se eu fizer a lembrança que quero ter dentro de trinta anos, desligar esse treco eletrônico e ler um bom livro.

20.8.07

FLAMINGOS
Ursos polares registram sua existência canhota
Labradores negros abrem as portas de seus donos
Maritacas sobrevoam o submundo da selva rochosa
Castores militam em passeata do greenpeace
Ornitorrincos questionam ovos de páscoa
Crocodilos pedem usocapião do esgoto de Nova Iorque
Corujas são expulsas de bibliotecas
Macaco cineasta critica a dúvida em longa metragem
Pombos-correio aposentados entram na fila do INSS
Elefantes relembram pré-história em três volumes
Raposas capitalistas derrubam bolsas asiáticas
Flamingos cor-de-rosa mudam de cor na Polinésia
Cronista espera jornal de dois mil anos atrás,
O paradoxo evolutivo da industrialização animal
E o estado estacionário da estupidez humana indeclinável.

17.8.07

MEU CARO AMIGO, POR FAVOR...
Pode parecer estranho, mas eu tenho amigos. Grandes amigos, na verdade. Aliás, quem não é grande amigo meu, nunca passará de colega ou só conhecido.
Em questão está o grande amigo Pedro. Músico, poeta, publicitário. Ele me pergunta com certa freqüência sobre o instrumento a que ele deva se dedicar; se é o violão, a flauta ou o saxofone. Eu tenho dito a ele que é uma questão de conceito: harmônico ou melódico.
E digo isso só porque sei que vai ser da maior importância artística qualquer instrumento que ele escolher para fins de dedicação inesgotável. Porém, devo em muito mudar minha resposta para algo bem mais específico e prático, principalmente do ponto de vista musical.
Quem me conhece sabe que eu tenho uma banda: A Fabulosa Banda do Curinga. Sempre cogitei e incentivei a hipótese do Pedro fazer parte do projeto, seja na música, seja na publicidade, ainda que ele (nem eu) não veja fronteira entre uma e outra.
Então, vou elevar minha sugestão à precisão musical e cirúrgica. E farei isso porque compreendo de todo o que isso pode significar para a música em geral, para a evolução artística do instrumento e, principalmente, para a evolução da minha banda, que, aliás, nesse momento, não posso nem devo chamar de minha, mas nossa.
Nossa banda, isso sim, se o Pedro aceitar minha sugestão e convite para comprar um saxofone e entrar para A Fabulosa Banda do Curinga.