28.1.07

É VERDADE
Acontece. É assim: o avião decola e você não consegue dizer adeus. Ele vai e volta, mas para nunca mais voltar. É estranho. Ele sabe mais do que a gente. Tem uma experiência a mais. Isso não se pode negar. Conhece, hoje, lados da moeda que você não sabe que existem. Esses lados estão lá. Para todos nós. É só esperar.
Mas é injusto, não é? Quando alguém nos deixa sem as devidas explicações.
Mas eu entendo você, Bortolai. Há um pingo de satisfação. Sim. Decola, meu amigo. Vai para onde eu não conheço, mas deve ser melhor. Porque nós não entendemos, mas você sabe muito bem. E, ademais, obrigado. Porque, por seu crédito, sei de coisas que não poderia saber sem você. Obrigado. Mesmo.
Perdão, peço, por qualquer coisa. Ainda que tarde, peço.
Eis alguém que eu não fui: Bruno Bortolai.
Obrigado,
Abraços,
Adeus.
Paulinho - E pensar que ele foi ao meu aniversário me dar um abraço...

22.1.07

VILA E VILA
Vou tratar do assunto objetivamente. Quero evitar acusções desnecessárias. Vou contar sobre minha última experiência na Vila Olímpia. É um bairro de São Paulo. Cheio de bares e "baladas", como se costuma dizer. Já havia abandonado a região há muito tempo, principalmente para fins de entretenimento. Só voltei em razão do grande respeito que tenho pelos amigos, em especial o que fazia aniversário quinta-feira passada. Por isso, fui. Mas não volto mais.
Vamos por partes. Ao chegar, de carro, perguntei ao manobrista do lugar o preço do estacionamento. R$ 12,00. Achei estranho. Por quê? R$ 10,00 não bastam? Eu penso que sim. A seguir, diri-me à porta de entrada e disse à senhorita que me "recepcionaria": - Boa noite. Silêncio total. Após a inércia, ela responde: - Seu nome?
Será que as coisas mudam assim, tão rápido? "Boa noite, qual o seu nome, por favor?" Seria o ideal. Não, não. Na Vila Olímpia as pessoas o pressupõe um idiota. Meu boa noite passou em branco porque as 100 pessoas que entraram antes de mim não o disseram. Tudo bem, é aniversário do Leonel. Isso passa.
Logo depois de entrar, pedi ao garçom uma cerveja. Nada mais justo, depois de não ter recebido um boa noite. Tive de reiterar o pedido várias vezes, até que o garçom justifica: - Já trouxe a cerveja faz tempo!
Em termos práticos, isso significa que eu precisei convencê-lo de que, embora houvesse uma cerveja marcada na comanda, eu não a havia tomado, porque ele não havia, ao contrário do que disse, trazido a maldita cerveja (caríssima, diga-se de passagem).
Aí, veio a banda. "Uma das melhores da noite", disse-me Leonel. Após duas ou três músicas fiquei convencido de que era uma grande mentira. Uma bela porcaria. E não pretendo falar das pessoas, do público. Minhas ofensas seriam impublicáveis. Registro apenas o seguinte: que o inferno aumente suas instalações, porque, se ignorância condenar, a coisa vai ficar feia... e quente.
Portanto, e por isso, prefiro a Vila Madalena. O estacionamento é mais barato, 'boa noite' é uma expressão conhecida, o garçom não dá uma de malandro e a música agrada. Para mim, chega de Vila Olímpia. Ela só serviu para eu fortificar o conceito de NUNCA MAIS.
Até.

17.1.07

SAL DE FRUTAS
Olha, vou falar. Meu trabalho às vezes impede a "regalia" de almoçar. É. Regalia. Simples assim. Basta olhar para o meu irmão. Com quase vinte anos de advocacia, já não consegue lembrar da última vez em que almoçou em um regular dia de semana.
Sabem daquela coisa de: segunda-feira, virado à paulista; quarta-feira, feijoada e assim por diante? Pois é. Por aqui, nada disso. Eu ainda faço certo esforço para almoçar sempre que possível. Às vezes isso quer dizer um dia na semana. Outras vezes, dois ou três. Todos, nunca. Ainda assim, mesmo sem o hábito perfeito de almoçar, não pode ser o caso de o corpo adquirir aversão à gastronomia da uma da tarde.
Meu corpo, porém, conseguiu mais essa proeza. Hoje é quarta-feira. Segundo almoço da semana. Segundo pacotinho de Sal de Frutas.

12.1.07

PRAÇA DA SÉ E XV DE NOVEMBRO
Quando estou no Centro de São Paulo, estou sempre trabalhando. Como não posso usar essa desculpa para dizer que não observo as coisas, direi o que percebi ontem, no meu trajeto entre a Praça da Sé e a Rua XV de Novembro.
Percebi as entrelinhas dos seres que ali habitam. Percebi, por exemplo, um homem branco, de de gravata, mas sem paletó, que pregava a palavra do Senhor usando um microfone e um pequeno amplificador. Entretanto, poucos metros adiante, havia um homem negro. De paletó e gravata, sem microfone ou coisa do gênero, pregava o mesmo assunto. Mas, quando esse homem começava a falar, nenhum microfone ou amplificador serviriam para abafar a sua voz. E as pessoas o pediam por uma palavra paricular, direcionadas a ela diretamente. E o homem negro punha a mão na cabeça da senhora com carrinho de feira e fazia a sua parte. A paixão daquele homem derrubava qualquer pretensão de qualquer microfone ou amplificador.
Mais adiante, um homem amarrou uma corda entre uma árvore e um poste. Com um tênis, este amarrado à corda, repetia: - "Faço dessa minha arma contra os gigantes que atentem contra mim. Eu não existo para o mundo e, por isso, não tenho medo dele. Estou em vantagem." Mas ele existia. No mínimo, existia para as pessoas que assistiam ao teatro de rua.
Muitos temem o Centro de São Paulo. Isso me parece um engano. As entrelinhas da existência humana se sobrepoem aos assaltos, sempre que você exercitar a habilidade da observação. Depois de ontem será fácil ir ao Centro com um sorriso estampado.

8.1.07

Motivo
Se for sorrir
Se for chorar
Se for cantar
Se for matar
Se for viver
Se for sofrer
Se for dormir
Se for acordar
Se for pular
Se for sentar
Se for tentar
Se for falhar
Se for falar
Se for ouvir
Se for vestir
Se for despir
Se for beijar
Se for tocar
Se for beber
Se for brindar
Se for sonhar
Se for saber
Se for amar
Que seja por amor