NOSSA SENHORA DO Ó DO BOROGODÓ
Uma crítica e uma falta de crítica.
Pensando 23, acho melhor começar dizendo que ainda é um dos meu lugares favoritos. E não é que haja lugar que vá competir com o Ó para saber se algum ocupa o topo da lista. Eu não tenho uma lista para algum lugar liderar. E como não tenho tal lista, desnecessário é pesquisar na noite paulista se há lugar melhor. Não é o caso.
Pelo terceiro ano seguido - na tese do cliente fiel - comemorei meu aniversário lá no Ó. No Ó do Borogodó. Sabe o que houve? Aumentou. Aumentou tudo. O preço do estacionamento; o preço da entrada; o preço da cerveja; a qualidade do repertório; meu prazer em estar lá, bem como o de não estar, por causa do preço.
Lembro bem do texto do Pedro - vide Releitura - sobre o Ó. Foi bem na época em que apresentei aquele lugar a ele. Ao fim do texto que ele elaborou e publicou em seu blog, lembro-me melhor ainda, ele diz que algo no sentido de que "no Ó, dinheiro só serve para pagar a conta".
No momento sinto a obrigação de atualizar essa tese. Não me pergunte a razão.
De qualquer modo, diante do aumento no preço, devo dizer que, no Ó, dinheiro serve para parar o carro se não houver vaga na rua; serve para tomar cerveja; serve para comer uma bela porção de carne-seca com abóbora; serve para ir à falência, acreditem; serve para ter um momento de irritação econômica... Acho que deu pra ter uma idéia.
Pessoalmente, continuo achando que dinheiro não serve pra muita coisa senão estragar a festa, empobrecer a mente e toda aquela coisa relacionada à evolução intelectual do ser humano.
Nó Ó, entretanto, serve para ter o prazer mínimo necessário, principalmente para aqueles que buscam um recanto de boa música, boa cultura (não estendendo tal benefício a todo o público que lá comparece); que buscam Cartola, Chico e todos os outros; Fabiana, Dona Inah, Juliana e assim por diante, com poucas exceções e tal.
Dinheiro, no Ó, no fim das contas e em razão do aumento, pode servir, finalmente, para alguma coisa, como, por exemplo, dar continuidade ao ânimo de continuar. Assim como comprar um bom livro, um bom disco...
E aqui estou eu, pensando 23, para dizer ao Leo que o pedôo pela crise de capitalismo decorrente da inflação acumulada. Pena que meu salário não contemplou a mesma inflação que o Ó.
E aqui estou eu com uma crítica e uma falta de crítica, anulando-se. Só espero que esse texto não anule a si próprio e passe a ser irrelevante, passageiro... Melhor começar a pensar em termos de metalinguagem.