31.12.07

DIALÉTICA, NÃO-DEFINIÇÃO E TOM JOBIM

Bossa-enredo de Samba.

Se movimento define a existência, o ponto mais profundo e quase morto da dialética seria discutir entre o vivo e o morto, o que se movimenta e o que está parado. Porém, se o que está parado carece de movimento e esta ausência define a falta de existência, o que menos há no mundo é dialética para o que não existe; para o que não há; para o que não é nem nunca virá a ser.
Logo, tudo o que é discutível necessariamente há. O que não significa dizer que o indiscutível não exista, pois que indiscutíveis são os termos absolutos, seja sobre o que sejam derradeiramente absolutos ou não.
Fato é que para discutir sobre nada, ou sobre o que não necessariamente existe é preciso concordar que mesmo o nada existe, mesmo que em sua mínima forma para permitir que sobre ele se discuta. A certeza que deve haver é que ninguém por aí tem condição de discutir sobre o que não há. Porque o que não há, não há, nem mesmo em sua menor substância a ponto de ser discutível.

Portanto, pode o leitor se tranqüilizar, que o que menos há por aí é gente perdendo tempo com que não há.

Mas, então, dialética que se preste, realmente, parte da premissa de existência daquilo sobre o que se discute. Assim sendo, a dialética que há sobre o amor não discute se ele existe ou não (porque ele existe, necessariamente, por uma questão de consistência dialética interna própria), discute, isso sim, onde, como e por qual razão ele há e nos termos em que se apresenta.
Mas, no caso específico do amor, a dialética esbarra, logo de cara, na flutuação intransponível da não-definição.

Defina, por favor, alguém aí do outro lado, o amor. Pode acreditar que tudo o que há na literatura sobre definições do amor são mais descrições de sensações ou fatos que se relacionem de algum modo com o amor, mas não o definem - aliás, nem perto chegam.
Enquanto não se define, a dialética é forçada a ir às avessas de seu tradicional. Isto é, partir dos efeitos ao conceito e não do conceito ao efeito.
E não há nada de errado nisso, desde que exista a capacidade de admitir um método não muito preferível e que funcione a despeito de conceitos. O que é claro, porque se conceito não há, efeitos os queremos e muito, para trabalhar às avessas.
O que não é necessariamente verdade não é necessariamente mentira e o inverso é verdadeiro, mas não necessariamente.
Por isso tenho a tendência de acompanhar Tom Jobim. Quando viraram para ele e disseram,
“Tom, o que é o amor?”, ele respondeu: “Como não sou nada bom em definições, vou fazer aqui uma tentativa...

Um cantinho um violão
Esse amor e uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama
Muita calma pra pensar
E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se
O corcovado, o Redentor
Que lindo
Quero a vida sempre assim
Com você perto de mim
Até o apagar daquela chama
E eu que era triste
Descrente desse mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade, meu amor


Indaiatuba, 2007.

13.12.07

POR AMOR À CIÊNCIA. POR OFENSA A NINGUÉM.
Absolutamente Livre do Mal das Certezas e do Óbvio.
De cara, fazendo valer o subtítulo, devo alertar ao leitor que não tenho certeza do tamanho do texto que escreverei hoje. Então, pode ser saudável abaixar um pouco a página para saber a extensão da coisa. Não leia sem tempo. Não me refiro a meus textos, mas a qualquer livro ou artigo e assim por diante. Não leia sem tempo.
Quando escrevo que estou (ou quero estar) absolutamente livre de certezas e de coisas óbvias, isso significa, não só mas principalmente que quero ter o direito de achar. Não achar no sentido de encontrar o que foi perdido (será?), mas no sentido de entusiasmar o "achismo", ainda que não seja muito científico.
E assim veremos...
Eu acho que algumas coisas devem ser ditas em benefício das mesas. Quais mesas? A do bar, qualquer que seja o bar; e a da sala de jantar, especificamente a da minha casa.
Sobre a mesa do bar, como qualquer um que me conhece bem poderá dizer, gosto muito dela e me habituei a encará-la sozinho, se preciso for. Isso é por causa de minha intimidade com a figura do Lobo da Estepe, de Herman Hesse (vou verificar a ortografia do nome depois). Aprendi a ser só, por razões que não importam.
Mesmo assim, não é sempre que a mesa do bar se vê apenas na minha companhia. Amigos próximos que tenho muitas vezes integram essa exaustiva, interminável e deliciosa busca filosófica pelas respostas que nos são necessárias, respeitadas as proporções individuais, naturalmente.
Essa busca, acompanhada ou não, ensinou-me sobre um limite. Um limite que não necessariamente resolve, nem tampouco conforta, mas a existência dele pode ajudar bastante em determinados momentos. Esse limite é o limite da lógica. Quer dizer, basicamente, que, às vezes, o contexto transcende de tal forma que a lógica humana passa a deixar a desejar. Porque a lógica humana só compreende e se faz últil até onde vai o conhecimento de quem a usa.
Ocorre que há coisas (coisas humanas) sobre as quais não se tem o necessário conhecimento para se apreciar com o uso da lógica. Aí é o caso de transcender. O que é ilógico não é necessariamente errado, ainda que o possa ser. Pode acontecer de esse ilógico estar além daquilo que se conhece. Enquanto não se conhece, ilógico é, e esse ilógico se resolve por caminhos nitidamente ilógicos e, portanto, transcendentais também.
É possível gostar ou até amar uma pessoa sem razão objetiva nenhuma para tanto. O amor é essencialmente ilógico e será sempre obtido sem base lógica enquanto ilógico for. Então, cauteloso leitor, cuja leitura recebo como homenagem, tenho a dizer que o amor, por ilógico que é nunca poderá ser ponto final, mas sim ponto e vírgula, a partir do qual seguem todas as nossas ações em busca dessa imensa dor de paz que é amar.
Isso não é instinto animal ou algo do gênero... É amor; é ilógico; é transcendental por natureza, em busca de um conhecimento que ainda não se tem de verdade. O que me leva à mesa da sala de jantar.
Por um acaso, alguém aí consegue explicar, por meio de lógica, porque amamos nossos pais, irmãos, primos e assim por diante? Não há lógica! Apenas há amor; incondicional e com tendência a transbordar, nos melhores casos.
Na prática, isso quer dizer exercer um dos direitos mais importantes e fundamentais do homem: o direito de defender quem se ama. Porque, muitas vezes, esse tal de amor nos dá mais vida do que nos podemos criar para nós mesmos.
O amor é o sentimento mais metafísico que existe. É como percebemos o que significa o conceito de unidade; de UNIverso. Se você tem problemas em amar a si, ame alguém, porque é sempre recíproco; é sempre a mesma coisa. Amar é amar. Pode não parecer muito, mas o que é muito ilógico é proporcionalmente fascinante.
Cultive bem os amores da mesa da sala de jantar. Depois, os da mesa do bar. Depois, todos os outros. Mas, por favor, ame.
Acho eu. Canto eu. Amo eu o amor meu de amar o amor que ama o amor.

6.12.07

COROLÁRIO DO SONHO QUÂNTICO
O auge da consciência humana é perceber-se personagem no sonho de outra pessoa.

4.12.07

ATÉ AMANHÃ
A previsão do tempo é simples: faltam vinte minutos para as duas da madrugada.
Uma vez que "sonho é destino", eu vou deitar. Deitar para dormir. Dormir para sonhar e, assim, fazer do meu sonho destino de todos os dias do amanhã.
O amanhã não é a terça-feira. O amahã é o resto da minha vida.
Citando meu pai, novamente e sempre: "Boa noite; até amanhã; durma bem"

3.12.07

PAZ NO FUTEBOL
Olha, sou morador dos arredores de certo estádio multi-campeão há quase 22 anos. Esse é meu embasamento para dizer que, ainda que não entenda um monte de coisa sobre futebol, o que é possivelmente verdade, entedo de torcidas. Organizadas e desorganizadas.
E o modo com que essas torcidas torcem, torcem e destorcem o razoável e o aceitável.
Porém, de qualquer modo, quase sempre refletem a razão da competência daqueles por quem torcem, em primeiro lugar. Mas, como não há time sem torcida, nem torcida sem time pra torcer, devo concluir que tudo é um relacionamento esportivo-histérico simbiótico, sem o qual não se pode dizer que há Esporte, no sentido amplo e popular do termo.
Então, tudo pelo que passam, time e torcida, devem seguir uma lógica na razão merecimento/ competência ou coisa que o valha.
Agora é a hora em que o leitor se pergunta, com justiça e não sem razão, para que, exatamente, este que vos escreve escreveu o que, até então, se pode ler. E quem escreve responde, com gosto.
Pela primeira vez na história do esporte nacional, em específico no Brasileirão 2007, houve a perfeita lógica do binômio torcida/time, a saber, o São Paulo foi campeão e o corinthians foi rebaixado.
Por um ano, pelo menos, teremos Paz no futebol brasileiro.