27.4.09

SOBRE OS FUNDAMENTOS
Sobre a falta de talento e comparações comprometedoras.
Para quem não conhece o debate, preocupar-se é inútil: esclareço-o muito rapidamente: a grande bandeira da música independente brasileira - em especial o rock - é criticar os fenômenos de público e mídia, costumeiramente chamando-os de "porcarias" ou qualquer coisa daí pra baixo.
Para escrever sobre algo útil, não direi uma vírgula sobre estilo ou gosto. Vou tratar, isso sim, da falência da crítica, aliás, da auto-crítica de que sofre, sem perceber ou admitir, o clube dos anônimos da música nacional.
Na verdade é uma questão de linguagem. Para escrever em determinado idioma, convém conhecê-lo; não precisa de ser perfeito, mas é preciso dominar o básico: formar uma frase, usar a pontuação adequadamente, fazer com que a junção dos elementos façam sentido. Essa é a chave para a comunicação bem-sucedida.
Tudo que tem função, há de vê-la cumprida.
No mundo da música, acredito piamente, que a base seja garantida por três elementos: tocar no tempo, no tom e ao mesmo tempo, pois que de nada serve a guitarra afinada fora do compasso.
Pois bem e a grosso modo: ritmo, harmonia e melodia. O básico do básico. O primeiro volume de qualquer método, de qualquer instrumento.
Antes de cumprir com essa demanda de fundamentos, falar em quem é bom ou ruim é rigorosamente impossível. Mas é desse tipo de hipocrisia de que a música independente está tomada.
Sabem porque o rock brasileiro é viciado em copiar o internacional? Lá, nos EUA e na Europa (por exemplo), toca-se no tempo e no tom. Não se perdem horas a fio editando bateria, baixo e guitarra, colocando todo mundo no tempo, pra depois soltarem um disco na praça dizendo que são bons... Não são.
Músico que é músico cumpre o básico.
Não morro de amores por Fresno, Nx Zero ou quem quer que seja. Muito pelo contrário. Mas eles cumprem o básico. Mas a maioria dos pretensos herdeiros de Led, Hendrix e outros grandes não seguram a máscara por muito tempo.
Querem criticar? Comecem por si próprios.
Tem gente por aí usando programa de computador caríssimo para parecer bom. Deviam usar esse dinheiro para investir em estudo. Metrônomo. Muito mais barato do que pagar um engenheiro de áudio para colocar as notas onde deveriam estar.
Falta talento; falta decência; falta honestidade.
Faltam músicos. Faltam artistas.
Segue a campanha: recruto sensatos.

15.4.09

A UM CÃO SINGULAR
E ao plural de cães.
Houve até quem dissesse que meu irmão tinha se precipitado, antecipado-se. Não sem razão, mas também não com ela.
Mas a alegria dele, ao chegar, com seu jeito espalhado de ser, vivaz, atento, pronto para o novo, contagiava até que, depois, sofreu de seus dentes ciumentos e defensivos. Os donos eram só dele; de mais ninguém.
Pastor de onze filhotes fortes de personalidade, Calvin foi amado por homens e cães.
Medroso que só ele, não queria saber de escadas, fosse para subir ou descer. E as orelhas oscilavam entre arranha-céus e grama baixa de jardim. E nem fazia questão de comer se fosse para dar atenção aos donos. Humilde e altruísta.
Não havia como dar três passos na cozinha sem que os pés fossem tocados por suas patas, como se dissesse: "estou aqui, não passe em branco, não esqueça de mim".
Não esqueço não. Sem essa. Era meu pastor e nada me faltou.
Exceto a partir de hoje, quando, constatada sua morte, falta-me Calvin, mas não falta em lembraça.
Um pastor alemão de converter nazista. Foi-se para não ver ninguém ir.
Eu vi a lágrima e dela compartilho. Só quem tem sabe o que é.
Um abraço.
Por amor aos cães, por amor ao meu.