26.8.09

MIGRAÇÃO
A partir de 25 de agosto de 2009, o conteúdo deste blog muda de endereço e nele será dada continuidade.
Favor acessar www.paulogianini.wordpress.com para arquivo e novas publicações.
O arquivo de paulogianini.blogspot.com ficará disponível até dexembro de 2009, mês em que será excluído.
Paulo Gianini

18.7.09

MEU CARO AMIGO
É fato que não é a primeira vez que um texto meu será concentrado em torno do nome de um amigo próximo. Entretanto, como disse meu pai, com louvor, quando eu ainda era pequeno: "saiba reconhecer uma pessoa diferenciada".
Hoje, passados muitos anos, verifico quem são os amigos diferenciados de meu pai, além de vincular-me, inevitavelmente, a produzir a minha própria lista. Já antecipo, porém, que não vou elencar os amigos que tenho como diferenciados, os quais, por sorte minha, são diversos. Apenas pretendo analisar os resultados parciais de anos de amizade; aparentemente, jamais em vão, nesse específico caso.
Certa vez, quando eu contava com poucos, mas bem pensados, quatorze anos, a professora Rosa Maria confiou-me que seu filho, Pedro, também era músico, além de escritor.
A importância que dei a essa notícia era a que tinha condição de oferecer, lembro-me bem: "O filho da Rosa é músico". Um ano mais tarde passei a integrar a banda que Pedro liderava como vocalista e compositor. Naquela banda: Pedro, Viana (guitarra), Paolo (baixo), Guga (percussão) e eu (teclados).
Ainda que eu fosse jovem em demasia para notar, nascia ali, além de com os demais citados, uma amizade que tinha muita lenha para queimar, com o respeito dos ambietalistas.
Mesmo depois de decretado o fim daquela banda, minha amizade com o Pedro jamais enfraqueceu. Pedro formou-se publicitário muito bem sucedido, diga-se de passagem. Ele é até colunista do Guia da Semana (guiadasemana.com.br). Eu, por minha vez, terminei a faculdade de direito, sem, entretanto, ter colocado a mão no diploma. Sou só músico mesmo...
Mas ele, lá de Nova Iorque, enviou-me um recado, um presente (não só para mim). Esse presente é bem mais amplo do que parece.
Pedro, na posição de colunista do Guia da Semana, não escreveu, versou em grande estilo sobre a Fabulosa Banda do Curinga.
Entretanto (palavra que Pedro e eu apreciamos), além de elogiar minha banda, chegou à perfeição textual, literária. Porque a perfeição chega pra todos. Para o Pedro, chegou antes; e ele, em sendo quem é, em verdade, deu sua perfeição de presente para mim, para o Igor, André, Théo, Felipe, Ney, Bia, Sidney, Renato, Sérgio...
Espero poder retribuir o presente que me foi confiado.
Caso eu não seja capaz, o perdão e a compreensão de que fiz o que pude, meu caro amigo.
O curinga é assim mesmo: sabe que não está só, mas age como se estivesse...

8.7.09

RECICLAGEM
Por obra de acaso ou necessidade, acabo de sair daquele conhecido instrumento de comunicação via internet, o MSN Messenger, que costumo chamar de telegrama instantâneo (já que nele tanto se abrevia), por meio do qual trocava frases com meu grande amigo Eric, que desse país se ausenta, temporariamente, por motivo de estudos áudio-técnicos e musicais.
Disse-me o colega, mais conhecido como Tomatinho (vai saber...) que a Fabulosa Banda do Curinga deveria procurar meios de se apresentar na Califória, já que dispõe de tantos lugares disponíveis para uma banda se apresentar.
À exceção de problemas documentais, não vislumbrei erro na proposição. Porém, ao que me foi escrito em seguida se deve o mote do que se lê nessa publicação:
"Metade aqui é lixo".
Pois bem. Por amor ao debate, suponhamos (por esperança e fé na bossa-nova) que a Fabulosa tenha condições de se apresentar na Califórnia satisfatoriamente. De que serviria essa apresentação?
De nada, certamente. Além do fato de que a Fabulosa Banda do Curinga é uma banda completamente autoral, aliada ao vernáculo nacional, de que serve lavar a roupa em território estrangeiro?
Daí decorre a análise crítica: sair do país para lavar a roupa de ianques dissimulados, além de prova de incompetência, é uma falta de respeito para com a nação brasileira.
A Fabulosa Banda do Curinga é nascida verde e amarela e nessas cores viverá, ainda que pouco e para pouco. Caso essa banda não se faça verdade aqui no Brasil, não terá sido além de mentira.
A crítica não é ao grande amigo, que fez papel de produtor nato, a quem dedicaria Meu Caro Amigo, de Chico, nesse momento. A crítica, em verdade, não há.
O que há é a vontade de que no velório da Fabulosa Banda do Curinga não se cante Mais um Adeus, de Toquinho e Vinícius, ainda que seja verdade: "o amor é uma agonia/ vem de noite, vai de dia/ é uma alegria/ e, de repente, uma vontade de chorar".
Amo esse país e dele não saio para fazer sucesso; saio por tê-lo merecido; saio por tê-lo feito aqui mesmo.

29.6.09

OS MORANGOS
Ou o que deles se pôde notar.
O que mais me fascina em tudo isso é o que dizia Rainer Maria Rilke ao jovem poeta, Kappus, sobre como o poeta extrai de sua solidão e daquilo que o reodeia assuntos sobre os quais versar.
Parece correto dizer que é possível extrair uma obra de arte de um mero diálogo entre amigos. Porém, o processo de concepção e tradução dessa específica obra não parece ter condições de surgir a não ser que o artista se encontre num estado mínimo de solidão necessário.
Outro aspecto interessante sobre esse assunto é o fato de o artista precisar de um estado constante e natural de atenção a tudo que o rodeia, enquanto, concomitantemente, deixa fluir seu poder de livre associação daquilo que o cerca com tudo aquilo que existe.
Daí ser absolutamente fascinante, ao menos para mim, a sintonia em que se encontravam Vinícius e Toquinho ao produzirem obras impecáveis como Tarde em Itapuã. O caso descrito nessa música deve ter se repetido incontáveis vezes na história daqula praia, entretanto, apenas eles foram capazes de traduzir em linguagem aquela sensação.
E com certa surpresa e inexplicável impacto de um sorriso foi que pude notar algo que, até então, pareço ter apreciado em momento de plena solidão.
Saia eu de um comum, freqüente (com trema, por motivo de respeito interno) e frio ensaio da Fabulosa Banda do Curinga - que toma lugar, desde sempre, na casa dos irmãos Felipe e André, baixista e vocalista daqula banda respectivamente, informação que divulgo com a licença e compreensão da família - quando, ao atingir a parte externa da residência, chegou sob, sobre e ao redor, um intenso e indiscutível cheiro de morangos.
Atravessei aquela nuvem silvestre e adentrei a sala de jantar da casa, onde encontrei o chefe do poder familiar, a quem perguntei se, por obra do acaso, havia notado o cheiro de morangos que rodeava a residência. A resposta, negativa, deixou-me intrigado, por razão da nitidez com que havia notado aquela repentina peculiaridade.
Voltei alguns passos, acho que cinco ou seis, para me certificar do que havia sentido pelo meu olfato, que é um dos meus sentidos menos confiáveis, diga-se de passagem...
Porém, fui atacado pela pela falta de argumentos: era como se eu estivesse em meio a toda uma safra de morangos recém-colhidos. Sentei. Simplesmente sentei e ali permaneci, calmo e esperançoso.
Aguardei, no meio dos morangos, tudo aquilo sobre o que ousei sonhar nos últimos dez anos, sem margem pra erro. Estava lá, em meio aos morangos, com meu violão, reproduzindo com todos os meus defeitos Mais um Adeus - "o amor é uma agonia, vem de noite, vai de dia, é uma alegria e, de repente, uma vontade de chorar". Estavam lá, os morangos, o violão, um adeus, um sofrimento, a piscina, a casa em Itaipava, o suco de laranja, o futebol, o almoço, o jantar, a cama do canto esquerdo do quarto ao lado do de casal, a Estrada União Indústria, as férias de julho, as de verão, o inverno, o natal e o reveillon, a sobriedade, Pedro do Rio, o churrasco, Beto, Mônica, Ricardo, Marcos, John, meu pai, minha mãe, minha avó Ophelia, minha tia Vivian, todos... Todos lá, com os morangos, com tudo, com pouco, quando todo pouco era tudo o que tínhamos e estávamos satisfeitos.
Aí, então, subia a banda vinda do estúdio de ensaio e antes que me fosse possível perguntar se eles sentiam os morangos, estes me deixaram. Deixaram-me com toda a lembraça e responsabilidade de procurar descrever a sensação de conhecer o universo paralelo que guarda tudo aquilo a que temos acesso se estivermos abertos à infinitude da consciência humana.
Aquilo pelo que vale morrer é essencialmente imaterial.
Nunca houve morangos em Itaipava. Quiçá, nem na saída do ensaio. Porém, eles pagaram essa conta e a eles devo um minuto e meio de pura satisfação.
Devo a eles, ou ao que deles se pôde notar.

22.5.09

NÃO HÁ CONCORRÊNCIA
Pelos últimos dois minutos e meio, no máximo, fiquei pensando em como as coisas são efetivamente.
Em termos de contribuição cultural e artística, que é o que nos interessa efetivamente (virtuosos podem pegar senha para sair pelos fundos), há o que deixe absolutamente tudo para trás e desponte elegantemente na lista do que há de mais importante. Outras coisas, porém, se seguram como podem com um som bem gravado, mixado e masterizado e um show produzido. Até acertam em algumas composições, raramente, mas acertam.
O resto mecere respeito, pois que a luta é a mesma, mas desmerecem qualquer comentário. No Brasil, no "underground", sofre-se de falta absoluta de talento e honestidade. A melhor notícia do "underground" nacional deve ser a saída do vocalista da banda Granada, demonstração de personalidade, além do que, dizem que o cara é bom mesmo.
Mesmo assim, se considerarmos o que há de melhor na música produzida no Brasil, independentemente de ser em português ou em inglês - ou instrumental -, aquilo que mais contribuiu, em todos os sentidos (cultural, intelectual, filosófico, político), foi a música popular brasileira. Música Popular Brasileira. Bossa Nova. Samba.
Já foi dito, aqui no Brasil, que não seria possível colocar a produção da MPB na frente de outras coisas de fora (o rock em geral) por uma questão técnica, de captação, produção ou o que seja.
Pois tenham o devido perdão. Porque eu, com todo o respeito que um apaixonado por rock pode ter, sou incapaz de colocar o que quer que seja, que venha de qualquer lugar, na frente de Tom, Vinícius, Cartola, Pixinguinha, Zé Ramalho, Leninne, Adoniran, Chico Buarque de Hollanda (!), Geraldo Azevedo, Vandré, Alcione, Elba, Zé Ramalho, e tantos outros que me falta ânimo em escrever, apenas pela suposição (provavelmente válida) de que metade das pessoas que precisam desse texto não fazem idéia do que estou falando, e a outra metade é puro desdém.
Fora do Brasil, diria eu: Eric Clapton, Jamiroquai, Supertramp, Queen, John Mayer e Ry Cooder.
Aqui dentro: Renato Russo e Raul Seixas, pela literatura envolvida.
Mas nada disso é melhor do que a bossa e o samba. O motivo? O rock ainda é a várzea; ainda é virtuoso. Muita elegância e estilo precisa de ser extraída para subir no conceito de artisticamente relevante.
Impossível de suportar os aproveitadores da sociedade do espetáculo. A arte deveria ser a saída em direção a um mundo melhor. Onde está, então, o maravilhoso rock? Quem tem coragem de tomar essa postura?
O que falta é pesquisa e leitura.
PRG

27.4.09

SOBRE OS FUNDAMENTOS
Sobre a falta de talento e comparações comprometedoras.
Para quem não conhece o debate, preocupar-se é inútil: esclareço-o muito rapidamente: a grande bandeira da música independente brasileira - em especial o rock - é criticar os fenômenos de público e mídia, costumeiramente chamando-os de "porcarias" ou qualquer coisa daí pra baixo.
Para escrever sobre algo útil, não direi uma vírgula sobre estilo ou gosto. Vou tratar, isso sim, da falência da crítica, aliás, da auto-crítica de que sofre, sem perceber ou admitir, o clube dos anônimos da música nacional.
Na verdade é uma questão de linguagem. Para escrever em determinado idioma, convém conhecê-lo; não precisa de ser perfeito, mas é preciso dominar o básico: formar uma frase, usar a pontuação adequadamente, fazer com que a junção dos elementos façam sentido. Essa é a chave para a comunicação bem-sucedida.
Tudo que tem função, há de vê-la cumprida.
No mundo da música, acredito piamente, que a base seja garantida por três elementos: tocar no tempo, no tom e ao mesmo tempo, pois que de nada serve a guitarra afinada fora do compasso.
Pois bem e a grosso modo: ritmo, harmonia e melodia. O básico do básico. O primeiro volume de qualquer método, de qualquer instrumento.
Antes de cumprir com essa demanda de fundamentos, falar em quem é bom ou ruim é rigorosamente impossível. Mas é desse tipo de hipocrisia de que a música independente está tomada.
Sabem porque o rock brasileiro é viciado em copiar o internacional? Lá, nos EUA e na Europa (por exemplo), toca-se no tempo e no tom. Não se perdem horas a fio editando bateria, baixo e guitarra, colocando todo mundo no tempo, pra depois soltarem um disco na praça dizendo que são bons... Não são.
Músico que é músico cumpre o básico.
Não morro de amores por Fresno, Nx Zero ou quem quer que seja. Muito pelo contrário. Mas eles cumprem o básico. Mas a maioria dos pretensos herdeiros de Led, Hendrix e outros grandes não seguram a máscara por muito tempo.
Querem criticar? Comecem por si próprios.
Tem gente por aí usando programa de computador caríssimo para parecer bom. Deviam usar esse dinheiro para investir em estudo. Metrônomo. Muito mais barato do que pagar um engenheiro de áudio para colocar as notas onde deveriam estar.
Falta talento; falta decência; falta honestidade.
Faltam músicos. Faltam artistas.
Segue a campanha: recruto sensatos.

15.4.09

A UM CÃO SINGULAR
E ao plural de cães.
Houve até quem dissesse que meu irmão tinha se precipitado, antecipado-se. Não sem razão, mas também não com ela.
Mas a alegria dele, ao chegar, com seu jeito espalhado de ser, vivaz, atento, pronto para o novo, contagiava até que, depois, sofreu de seus dentes ciumentos e defensivos. Os donos eram só dele; de mais ninguém.
Pastor de onze filhotes fortes de personalidade, Calvin foi amado por homens e cães.
Medroso que só ele, não queria saber de escadas, fosse para subir ou descer. E as orelhas oscilavam entre arranha-céus e grama baixa de jardim. E nem fazia questão de comer se fosse para dar atenção aos donos. Humilde e altruísta.
Não havia como dar três passos na cozinha sem que os pés fossem tocados por suas patas, como se dissesse: "estou aqui, não passe em branco, não esqueça de mim".
Não esqueço não. Sem essa. Era meu pastor e nada me faltou.
Exceto a partir de hoje, quando, constatada sua morte, falta-me Calvin, mas não falta em lembraça.
Um pastor alemão de converter nazista. Foi-se para não ver ninguém ir.
Eu vi a lágrima e dela compartilho. Só quem tem sabe o que é.
Um abraço.
Por amor aos cães, por amor ao meu.