14.10.07

BOPE
Em Relação ao Filme Tropa de Elite
Nenhuma previsão que eu possa fazer a meu próprio respeito irá concluir que algum dia eu venha a ser a favor da pena de morte. Mesmo olhando para alguns indivíduos sobre os quais talvez pudesse dizer que merecem morrer, o instituto jurídico da pena de morte me parece o mais inaceitável de todos os vigentes ao redor do mundo.
Meu sossego, em relação ao Brasil, é a impossibilidade jurídica atual de instalação da pena de morte.
Entretanto, o ânimo do povo, em especial o carioca, tem sofrido uma mudança em relação ao tema, cuja discussão é muito bem colocada em Tropa de Elite. Está nos jornais e revistas que o público aplaudiu a película ao seu término.
Cinematograficamente, o aplauso é merecido. O filme é uma obra de arte do cinema nacional, resultante da competência do roteiro aliada à competência do elenco. Sobre isso não há dúvida.
De se aplaudir, ademais, a bravura dos homens que se encontram num estado de guerra declarada, a que não se deve imputar responsabilidade aos soldados, mas ao sistema que nos levou diretamente à falta de segurança social.
De se aplaudir, por fim, tudo aquilo que demonstra que há, no BOPE, competência para reduzir os malefícios do tráfico de drogas e armas que pairam sobre os morros do Rio de Janeiro.
Agora, a despeito do evidente período de transição de que todos fazemos parte, período em que sofreremos de vários modos, o que não se pode fazer, platéia dos cinemas brasileiros, é aplaudir o homicídio, porque, fazendo isto, estaremos nos condenando à morte sempre injusta.
Se todo poder emana do povo, este não pode legitimar o assassinato. Seríamos todos homicidas e estaríamos sujeitos às próprias penas.
Vida longa à existência...