17.9.07

E PINTAR COM TINTA FÚNEBRE A IMAGEM DO DESESPERO
Às vésperas do dia seguinte passo a ouvir as Cordas de Aço na voz de Luiz Melodia. Noto, na falta de vida, meu olhar vazio que procura nada vendo tudo, que procura tudo no meio do nada.
Sinto a cruel brisa do bordão das lágrimas sem ter a chance da contenção, porque o dia foi fútil e crítico no que se refere à identidade do ser. Porque preciso decidir quem não sou. E isso significa desconstituir o caos e elaborar o paradigma das respostas. Preservar a paz ou ser honesto?
Abro, em vão, as páginas da monografia. A um só tempo, leio-as e as deixo, confirmando a tendência cortante de atravessá-las com o olhar e ver apenas o vazio. E o ritmo que abraço por força maior é o da melancolia do violão de sete cordas, que se atreve a invadir os tons menores, compatíveis com minha insignificância.
Insignificância que deveria servir, ao menos, para estabelecer a derradeira necessidade de meu isolamento, porque Anitas, Beatrizes e Olívias sofreriam por demais com minha presença sem naturalidade.
"Só você, Violão, compreende porque perdi toda a alegria".
Devo aproveitar, isso sim, o silêncio que se instala em decorrência da insitente ignorância da juventude ao discutir a viabilidade imbecil da vestimenta elaborada, porque a dignidade do homem não está no guarda-roupas. No meu, certamente, não está.
Se me cumprimentasse agora, talvez não estendesse a mão nem lhe desse um beijo no rosto, dizendo que alguma das partes talvez não merecesse o cumprimento, sem, naturalmente, tentar deduzir qual das partes. Porque ainda não sei se preservo a paz ou se sou honesto.
Forte e sereno quem não derruba lágrimas sobre biografias de tragédia e perdição.
E devo incluir, para não excluir a mim de todo, meu pobre discurso de anivesário, que comemora 365 dias da prevenção ou adiamento da morte, discurso em que declaro convicto a meus amigos que estes são parte de seja lá o que for que eu sou, que a vocês ofereço saudação e reverência por terem a disposição de me estenderem a mão quando necessário, mesmo sabendo que meu genético orgulho me impede de pedir ajuda.
Sobram-me, apenas, o texto e a chance de pintar com tinta fúnebre a imagem do desespero de deitar encolhido, esperando que a boa filosofia sirva para fincar os pés no chão, na manhã seguinte e dizer que não ponho a risco minha própria evolução.
"À madruga iremos pra casa cantando".