18.11.08

SOBRE UM CERTO NÍVEL
Levar a música "para outro nível" significa transcender. E transcender, em certo aspecto, significa partir de determinado conjunto de premissas, para que, ao final, obtenha-se um resultado que contemple, basicamente, o harmônico, o melódico, o lírico e o intelectual.
Em lugar de discorrer sobre o que tudo isso significa, parto do processo de negativação, na tentativa de viabilizar o vislumbramento quase imediato de uma música incompleta.
Contemplar o harmônico é não mudar só para ser diferente; contemplar o melódico é não abusar das notas; contemplar o lírico é não esquecer da literatura; e contemplar o intelectual é não esquecer de um assunto absolutamente relevante, seja filosoficamente ou cientificamente.
Porém, na prática, diferença há entre oferecer uma música "em outro nível" e receber uma música naquele nível.
Pois que, em geral, ecléticos são aqueles que tomam por "boas", ou "ótimas", ou "fantásticas", composições e produções musicais que não necessariamente se encontram em outro nível, mas que agem diretamente em determinado patamar químico contra o qual não se pode lutar, a não ser que o receptor esteja em outro nível cultural.
Daí a segregação cultural. Daí decorrem as "tribos", por assim dizer. É impossível querer que uma inteira sociedade viva sempre no mesmo nível cultural, pois que da própria evolução decorre um determinado distanciamento cultural. Ocorre que, na sociedade capitalista e globalizada, existe a banalização da cultura; o "outro nível" só existe na cabeça do que está à frente; a variação é indeterminável, para não falar da distância.
Levar a música para outro nível, então, deverá ser, em nossa realidade, uma dupla de linhas paralelas: uma delas reside na cabeça daquele que acredita levá-la adiante; a outra, na esperança de ser acompanhado.
A minha esperança, além de querer levar a música para outro nível, é de não ter essa teoria considerada pessimista. Eu confio no compositor; porém, ele está precisando acordar... na minha cabeça.