13.11.08

O SUPERLATIVO DA VONTADE
Sinta-se em casa.
Nada melhor para definir a autonomia da vontade. É muito fácil classificar patologias suicidas. É sempre aparentemente nítido quando alguém decide contra a aparência do natural. Porém, difícil em verdade é argumentar sobre o desafio à lógica existente na dialética que reside entre a vida e a morte.
É evidente e incontestável que: para haver nascido morto é preciso ter vivido em algum momento. Daí voltar às raízes da Lei civil e certificar que é correto resguardar os direitos do nascituro.
Porém, o desejo de viver ou de morrer não é tão simples de se analisar. A vida e a morte passam como simplificações aritiméticas, quando comparadas ao fato de que a verdadeira indefinição que há na existência, ou seja, na vida e na morte, reside na forma, no método; em outras palavras, reside em como se manifesta a vontade de viver ou morrer.
Não há como exigir de alguém que vive pelos seus vinte e poucos anos uma mera hipótese sobre como seria a melhor maneira de morrer, sendo que, em primeiro lugar, ainda nem houve vida intelectual o bastante para tanto, e em segundo lugar, não se obteve o mínimo de informação que bastasse, ainda que remotamente, para analisar de modo conclusivo sobre o conforto de um leito de morte.
Em verdade, não é evidente que o acidente trágico seja um péssimo leito de morte; evidente é que não seja um bom leito para um jovem, pois que não consegue dizer ao certo qual seria a melhor forma de deixar de existir.
O paradoxo que se forma na dialética é aquele que se deforma na assertiva que reza que - citando anônimos - "se os idosos pudessem e os jovens soubessem..."
Isso deveria significar que, mesmo para saber ao certo como se quer morrer, preciso é viver um tanto de sofrimento e prazer. Daí classificar as mortes precoces de acidentes, ou, quando meramente diagnosticadas, de patologias.
Entretanto, depois de certa idade, mais certo e aceitável é ouvir de certa pessoa que ela gostaria de ir dentro de um modo particular, pois que respeitável é a decisão de quem viveu o bastante para saber que quer morrer de certo modo.
O ateu que vos fala também cita J. Cristo: "Os mortos que enterrem seus mortos."
O ateu que vos fala diz em próprias palavras: respeitem a vida; respeitem a morte.
Nascer não está em nossas mãos, mas morrer está;
Livre foi quem morreu como bem quis.