7.1.09

A MÁQUINA MARQUETEIRA
Lily Allen na Folha de São Paulo de 7 de janeiro de 2009.
Eu respeito o bastante a imprensa paulista a ponto de citá-la: "Lily Allen começa a invadir as veias do mercado pop - impulsionada pela máquina marqueteira de seus agentes e gravadora".
A gravadora em questão é a EMI, filha de Londres, com irmãs mais novas pelo mundo afora, inclusive nosso Brasil verde e amarelo.
A Lily, em si, é bastante respeitável do ponto de vista de sua música, seu trabalho. Mesmo que ela não tenha entendido nada da vida, algo que surge da leitura de suas letras, não é por isso que ela é culpada. O remédio para a juventude ainda é o envelhecimento.
Agora, a jovem é a "aposta da EMI para sair da crise em 2009".
Perdão, mas prefiro uma vida de Lily no myspace do que dar canja para gravadora. Sem falar nas máquinas marqueteiras. Posso até estar ficando maluco, sabe, por causa do mundo moderno e suas peripécias... Mas a imagem que se pinta em minha parede branca é simples: a menina perdeu a chance de fazer arte na vida: preferiu salvar a vida da EMI e seus marqueteiros modernistas, de quem dificilmente ela precisaria, já seus demos foram o que causaram tanto impacto midiático em primeiro lugar.
Porém, de nada vale a crítica oca. Talvez ela ainda tenha chance de fazer arte na vida; talvez ela tenha precisado mesmo da EMI e da Regal Records, sua primeira gravadora. Mas tudo isso se deve a apenas duas perguntas: quem está a serviço da música independente? Por qual razão a música independente continua perseguindo contratos com gravadoras?
O problema é que a música independente sempre teve seu poder subestimado. Basta ver: Móveis Coloniais de Acajú e Teatro Mágico. São prova de que gavadoras e máquinas marqueteiras não passam de muletas, das quais a arte pode muito bem se libertar e voltar a andar e até correr, como que no auge dos 23 anos da nossa bonequinha Lily Allen, quem, no Brasil, seria ninguém.
Eu queria que a EMI, a Warner, Sony/BMG e assim por diante, todas elas, falissem cruelmente, do mesmo modo que o bêbado sente seu coração parar, quando a guia se faz travesseiro. Assim, nós brasileiros deixaríamos - definitiva e amplamente - de acreditar em pedaçoes de papel nos quais se lê: rouba-se dos artistas e não serve ao povo, pois que é isso o que dizem os contratos dessas grandes gravadoras.
A arte está em crise há muito mais tempo que a economia.
O que lá fora é indústria, aqui pode ser pão.